Coimbra, 8 de março de 2006.
Querido Filho,
Escrevo-te estas linhas para que saibas que tua mãe está viva. Vou escreveire bem devagar, pois sei que não consegues ler depressa. Caso estejas sem tempo de escreveire à mãe, manda uma carta a dizeire que quando estiveres com mais tempo vais mandar notícias. Se tu viesses hoje cá em casa não irias reconheceire mais nada, porque mudamos de casa.
Temos agora uma máquina de lavaire roupa. Mas não trabalha muito bem.Na semana passada pus lá 14 camisolas, apertei o botão e nunca mais as vi. Se calhar esta marca "Incinerador" não é das melhores.
Tua irmã Maria está grávida. Mas ainda não sabemos se vai ser menino ou menina. Portanto, não podemos dizer-te se vais ser tio ou tia.
Teu pai arranjou um bom emprego.Tem 12.300 homens abaixo dele. Ele é o responsável pelo corte da grama do cemitério. Quem anda sumido é teu tio Nuno, que morreu no ano passado.
Lembra-te do teu tio Joaquim? Então, afogou-se no mês passado num depósito de vinho. Oito compadres dele tentaram salvá-lo, mas o tio lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado há duas semanas. Levaram oito dias para apagaire o incêndio.
Os engarrafadores de sumo cá em Portugal finalmente tiveram uma grande idéia de colocar uma indicação na tampinha, a dizeire: "abra por aqui". Facilitou-nos muito a vida. Espero que os daí façam a mesma coisa.Caso esteja difícil para ti, a mãe te manda algumas garrafas.
Teu irmão, Gonzalo, continua o mesmo de sempre. Semana passada fechou o carro com as chaves dentro. Perdeu um tempão, indo até a casa pegar a cópia da chave, para poder tirar-nos todos lá de dentro do automóvel. Estava um calor do caralho. Por falar em calor, o tempo cá em Portugal está muito estranho. Esta semana só choveu duas vezes. Na primeira vez choveu durante 3 dias. Na outra vez choveu durante 4 dias.
Esta carta mando-te através do José, que vai amanhã para aí. A propósito, será que poderias pegá-lo no aeroporto?
Lembrei-me de uma coisa importante. Terás um problema para falar com a mãe, caso decidas escrever-me. Não sei o endereço desta casa nova. A última família que morou cá, antes de nós, também era portuguesa e levou a placa da rua e o número da casa para não precisar mudar de endereço.
Se encontrares a Teresa, dê-lhe um olá da minha parte. Caso não a encontres, não precisas dizer nada.
Da tua mãe que te ama,
Fátima Melo Pinto Leite do Rego
P.S.: Ia mandar-te 20 euros, mas fica para outra vez. Já fechei o envelope.